A lampreia
Petromyzon marinus Linnaeus, 1758
Ordem: Petromyzoniformes
Família: Petromyzonidae
Lampreia
Lamprea
Sea lamprey
A lampreia é uma espécie autóctone, demersal, eurihalina e anádroma (o que significa que nasce no rio e cresce principalmente no mar). Tem sofrido ao longo dos últimos anos uma perda de habitat resultante da progressiva construção de barragens. A alteração de caudais afeta os locais de postura. É um dos vertebrados mais primitivos do mundo animal, com uma antiguidade estimada de 400 milhões de anos.
Morfologia
A lampreia tem o corpo anguiliforme, boca em forma de ventosa, sem escamas e sem barbatanas pares. Possui sete orifícios branquiais de cada lado da região anterior do corpo e um orifício nasal na parte superior da cabeça. O esqueleto é cartilagíneo, sem partes ósseas. A barbatana dorsal é bipartida, continuando a segunda com a barbatana caudal. Cor preta ou acastanhada com um amarelo esbatido na parte posterior e amarelada na zona ventral. As larvas (amocetes) carecem de dentes e têm olhos rudimentares. Pode atingir um comprimento superior a um metro e pesar cerca de 2,5 Kg, podendo viver até aos 9 anos de idade. ​Não existem evidências no rio Minho sobre a existência de espécies similares caso da Lampreta fluviatilis ou Lampreta planeri.
Adulto
Adultos
Juvenil. Boca
Adulto
Fotos: Carlos Antunes; Patrício Bouça, Mário Jorge Araújo
Biologia
​Espécie anádroma, demersal e eurihalina. Seu ciclo de vida é resumido em: nasce nos rios, baixa até o mar para atingir a maturidade e retorna ao rio para a reprodução. A fase marinha da espécie possui grandes incógnitas. Após 2-3 anos no mar, atinge a maturidade e seu instinto reprodutivo leva-a ao rio.
No rio Minho, realiza a sua migração para a postura, entre Dezembro e Junho. Durante esta migração, não se alimenta e geralmente morre após a reprodução.
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No local da reprodução, fixam-se nas pedras com a ajuda do disco bucal, que no mar permite agarrar-se a presas para alimentar-se do seu sangue, e o macho escava um buraco na areia, no qual são depositados, pela fêmea, entre 60 000 a 300 000 ovos de cerca de 1 mm de diâmetro. Depois de preparar o ninho, a fêmea "enganchada em uma pedra" permite que o macho se fixe na sua cabeça e fecunde os ovos.
As larvas (amocetes) vivem em água doce, durante um período que se estima entre 3 e 5 anos, alimentando-se de detritos e microorganismos, não possuindo dentes e têm olhos rudimentares. Após a metamorfose, descem o rio até ao mar (entre Janeiro e Março), vivendo de uma forma parasita, alimentando-se de sangue de peixes como o salmão, a truta, o sável, entre outros. Aparecem com frequência, nesta fase do seu ciclo de vida, na pesca do meixão com tela.
Distribuição
A lampreia distribui-se nos dois lados do Atlântico Norte, estando presente na América do Norte e Europa.
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No Norte da Europa a ocorrência é esporádica e rara (Noruega). Começa a ser igualmente rara a migração nos rios da Europa Central. No Oeste da Europa encontram-se as populações mais abundantes de lampreia, que entram nos grandes rios que desaguam no Atlântico: em França, o rio Loire, o rio Dordogne, o rio Gironde, o rio Garonne, etc.
Na Península Ibérica é igualmente muito comum, sendo, no entanto, cada vez mais difícil a sua migração para a cabeceira dos rios. No mar Mediterrâneo, a lampreia é menos abundante.
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O seu habitat disponível na bacia hidrográfica do rio Minho vai até à barragem da Frieira, o que corresponde a uma extensão de cerca de 80 km. Contudo, usa igualmente afluentes do rio Minho como local para a reprodução, como o rio Tea e a porção inicial do rio Coura.
Conservação
Espécie autóctone. A principal pressão resulta da perda de habitat pela construção de barragens, destruição de locais de postura e poluição. O habitat disponível termina na barragem de Frieira. A alteração de caudal afecta os locais de postura.
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- Libro Rojo de los Vertebrados de España: (V) Vulnerable
- Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal: (VU) Vulnerável
Pesca
Elevada importância comercial.
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Os registos oficiais conhecidos sobre a captura de lampreia, iniciaram-se em 1914. O valor mais alto, registado pelos pescadores portugueses, aconteceu em 2009, com 55930 lampreias, o que correspondeu a um valor económico superior a 100 000 €.
No rio Minho existem duas zonas distintas, em função das artes de pesca utilizadas, e que estão sujeitas a dois períodos de pesca diferentes:
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Entre a extremidade a jusante do grupo de ilhas do Verdoejo e o mar: de Janeiro a Abril. Arte de pesca: lampreeira
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Nas pesqueiras a montante da Torre de Lapela: de Fevereiro a Maio. Artes de pesca: botirão e cabaceira
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No rio Tea captura-se à "fisga", nas estacadas.
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Ditos dos pescadores:
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- Ano de cheias, ano de lampreias
- As crecidas, coa agua do monte. I enria a lamprea, a agua da fonte
- A lampreia tem a boca feia
- A lampreia, em Abril, p’ra mim; em Maio, pr’ó ano; no S. João, p’ró cão
- Lamprea e salmón, pola Pascua en sazón, despois non
- Marzo, lampreagem
- Cuando está de mormaceira, pica a lamprea